sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Estações

A primavera.
Era novo na minha escola.
Você era calado, no seu canto, não falava  muito com as pessoas em geral e tinha poucos amigos. As vezes ficava bravo por pouca coisa, arrumava confusão por pouca coisa também. Era uma músico, gostava de ir para o canto vazio do outro lado do pátio da escola para tocar seu violão.
Estudava-mos na mesma escola, na mesma sala.
Você se sentava no fundo da sala conversando com os seus poucos amigos.
Um dia a professora de história formou duplas aleatórias para um trabalho. Você era a minha dupla.
Você não disse nada quando sentou do meu lado.
Dividi os tópicos e passei sua parte para você.
E você resmungou algo sobre "ninguém manda em mim", jogou o papel dentro do livro e se levantou assim que o sinal do intervalo tocou.
Irritante.
Se passou uma semana e faltava apenas três dias para a entrega do trabalho. Te procurei em todos os cantos da escola até que te achei na escada que levava aos laboratórios.
Foi a primeira vez que conversei com você.
Eu disse:


- Você já terminou os tópicos que eu te entreguei?


E você me respondeu:


- Eu nem fiz, não tem porque fazer aquele trabalho estúpido.


E então nossa conversa foi seguindo.


- Esse trabalho estúpido equivale metade da nota sabia? Isso vale tanto pra mim quanto pra você.


- Problema é seu.


- Como assim?


- Isso mesmo que você ouviu, problema é seu.


- Qual o seu problema garoto?


- O meu problema é que você não me deixa em paz. Some daqui garota.


- Humpf! Você é insuportável! Fica ai se achando o rei do mundo e no final das contas não é nada.


- Ei! Olha como você fala comigo!


 - Você que começou e eu não recebo ordens de você.


- Aé senhorita espertinha? Pois eu não recebo ordens de garotas metidinhas, que se acham as espertinhas mas que na verdade só são pau-mandado dos outros.


- Você não sabe nada sobre mim!


- Eu já vi você no intervalo, pega as suas coisas e fica enfurnada na biblioteca até a hora que bate o sinal. Faz isso pra que em? Que que os outros vejam e sintam inveja da sua suposta inteligência?


Lembro que fiquei com muita raiva quando você me disse isso, então eu abri minha garrafa d'agua e joguei na sua cara.


- Ei! Sua louca! Você me molhou inteiro!


- NUNCA MAIS DIGA COISAS QUE VOCÊ NÃO SABE!


Gritei.
Você não disse nada, apenas me olhou assustado. Virei as costas e sai andando.
Idiota. Você era um grande idiota.
No dia seguinte, na hora do intervalo, eu fui para a biblioteca como sempre fazia. Não demorou nem dois minutos e você apareceu lá.
Você disse:


- Não é difícil te encontrar.


E eu disse:


- Mas é muito fácil de ignorar.


E assim conversamos de novo.


- Olha me desculpa, as vezes eu posso ser meio idiota.


- Meio?


- Olha eu estou tentando me desculpar ok?


- Ok, desculpa.


Não dissemos mais nada por um tempo.
Você suspirou e foi embora.
Quando cheguei na sala os seus tópicos do trabalho de história estavam embaixo da minha mesa.
No dia seguinte, no intervalo, eu fui procurar você pela escola e te encontrei no canto vazio do pátio tocando violão.
Eu disse:


- Eu achei os tópicos.


E você disse:


- Que bom.


- Eu sei como você se sente.


- O que você quer dizer?


- Eu sei como é sentir solidão.


- Como você pode saber? Você tem um monte de amigos.


- Não significa que eu não sinta solidão.


Sentei ao seu lado e conversamos sobre solidão.
Depois dessa conversa nós nos tornamos mais próximos. Viramos amigos.
E no final daquele mês, no termino das aulas, você deixou um bilhete na minha carteiro escrito "Amo você. Namora comigo?".
No dia seguinte eu fiquei te esperando na entrada da escola.
Atrasado. Você gostava de chegar atrasado as vezes.
Quando você chegou a aula já havia começado fazia sete minutos.
Você disse:


- O que você faz aqui? A aula já começo.


E eu disse:


- Eu sei.


- E por que você está aqui?


- Sim.


- O que?


- Sim, eu quero namorar com você.


Você sorriu e me beijou.
E levamos a maior bronca do professor na sala de aula.


O verão.
Já tínhamos terminado a escola a dois anos e namoravamos a quatro anos.
Foram os quatro anos mais felizes da minha vida.
Foram noites acordados até mais tarde, passeios de bicicleta, idas a sorveteria, assistindo filmes no cinema, passeios até o lago que tanto gostávamos, piqueniques na clareira do bosque, risadas no parque de diversões da cidade.
São tantas lembranças, tantos momentos felizes.
Você tocava seu violão para mim, fazia declarações de amor, surpresas.
Era carinhoso, amoroso, cuidadoso. Um romântico por natureza.
Tudo que uma garota poderia querer. 
Você gostava de sussurrar no meu ouvido:


- Você é a melhor coisas que já aconteceu na minha vida.


Fazia isso de propósito, apenas para ver meu rosto avermelhado. 
Você ria e dizia:


- Você está parecendo um tomate gigante.


E eu ficava ainda mais vermelha e dizia:


- Culpa sua!


E você me abraçava e ria novamente.
As vezes era meio ciumento, rabugento, mas isso fazia parte de você.
Uma vez, no parque de diversões, um garoto qualquer deu em cima de mim. Você ficou tão bravo que quase pulou em cima dele, tive que te segurar para que não pulasse.
Eu disse:


- Para com isso!


E você disse:


- Eu não vou deixar esse palhaço dar em cima de você!


- Me responde uma coisa, quem é o meu namorado? Você ou ele?


- Eu, mas esse palhaço...


- Ele não significa nada pra mim. Então para com isso.


- Humpf! Ok.


- Bobo.


- Do que você me chamou?


Ri da sua cara de bravo e te abracei.
Meu bobo.
Eu ainda lembro que no nosso primeiro piquenique na clareira você disse:


- Eu te amo para sempre.


E eu disse:


- Eu também te amo. Para sempre.


Eu acreditei naquelas palavras.
Eu acreditava naquelas palavras.
Mas os ventos mudaram.
E as folhas começaram a cair.


O outono.
Já completavamos quase cinco anos juntos. E as coisas começaram a mudar mudaram.
O romance foi substituído por brigas intensas.
Dia após dia, brigas e mais brigas. Não conseguia enxergar em nós aquele casal que começou no segundo ano do colegial.
Tomávamos o café-da-manhã em silêncio. 
Sentávamos lado a lado no sofá da sala sem dizer uma palavra se quer. 
Deitávamos juntos na cama e ainda aprecia que estávamos sozinhos.
Estávamos quebrando, pouco a pouco.
Eram raros os momentos de tranquilidade.
Desejava que tudo fosse como antes, que a alegria voltasse.
Mas por mais que eu tenta-se, por maior esforço que nós fizesse-mos nada funcionava.
Uma noite, quando nos deitamos você segurou a minha mão e disse:


- Eu te amo.


Eu disse:


- Eu também.


Só que aquelas palavras já haviam perdido a força e o significado.


O inverno.
Em um dia como outro qualquer, sentamos nas poltronas da sala um de frente para o outro.
Você disse:


- Eu te amo.


E eu disse:


- E eu te amo.


Ficamos em silêncio, segurando as lágrimas.
Você disse:


- Eu sempre vou te amar.


E eu disse:


- Eu também, mas vai ser melhor assim.


É o fim.
Acabou.
Eu te amei, mas não podemos mais ficar juntos.
Eu o amei até o fim.
Eu não quis mentir para você quando disse que era para sempre, mas não foi o que aconteceu.
Foi bom enquanto durou.
Será melhor assim.
Você fez uma grande diferença na minha vida, mas, apesar de estarmos juntos, nossas vidas tomaram rumos diferentes.
Levarei nossas lembranças comigo para sempre, afinal você fez parte de mim.
Adeus.




Acho que esse é o maior post. que já escrevi.
Mas, enfim, a idéia para esse texto veio de um vídeo de uma música que eu gosto muito.
A música se chama Just be Friends e quem canta é a vocaloid Megurine Luka. Acho que não são muitas as pessoas que conhecem.
Enfim, aqui está o vídeo da música. A música é em japonês, mas o vídeo tem legenda em português.



 


A imagem desse post. foi feita por KimKimsGalore do DeviantArt.


Até a próxima

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